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A natureza é sábia

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Texto: Vitor Necchi – jornalista

No Brasil, em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que a união estável entre pessoas do mesmo sexo tem os mesmos direitos conferidos ao casal composto por sexos distintos.

Em maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu que todos os cartórios do país devem celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Nos Estados Unidos, a Suprema Corte legalizou na sexta-feira, 26 de junho de 2015, em todo o país, o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

De volta ao Brasil: as coisas não andam nada boas por aqui. O fundamentalismo religioso vem ganhando espaço assustador, estabelecendo um debate pautado por preconceito, moralismo e discriminação. Por exemplo: o absurdo resultado das votações que ocorreram nesta semana dos planos de educação do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre. No estadual, a expressão “identidade de gênero” acabou removida do texto, juntamente com as menções a orientação sexual. No municipal, não foi diferente. Contrários à proposta, grupos religiosos vociferavam preconceito e raiva, ancorados em uma noção restritiva de família e sem pensar no sofrimento que a população LGBT enfrenta em ambientes escolares.

Estas decisões são muito graves, pois a escola deve ser, sim, um ambiente de reflexão sobre respeito à diversidade e de combate ao preconceito.

Todos que passaram por escolas sabem o inferno que a sala de aula, o banheiro, o corredor, o pátio, enfim, todos sabem o quão difícil podem se tornar os espaços escolares por conta das agressões. Homossexuais são estigmatizados, ofendidos, ridicularizados, agredidos, espancados, desrespeitados. Pessoas trans, na faixa etária em que começam a ter uma percepção mais exata da sua identidade de gênero, esbarram em um ambiente hostil e que em nada facilita o processo de se perceberem e assumirem. Meninos e meninas com características consideradas do sexo oposto são alvo de chacota permanente.

Todos que passaram por escolas também sabem que este terror atinge negros e negras, gordos e gordas e qualquer pessoa que, em determinado momento, seja considerada diferente ou menos importante. Como consequência deste ambiente hostil que a escola se torna, crianças e adolescentes que não seguem o protocolo de uma sociedade machista e heteronormativa (sim, a palavra é esta, por mais que tentem desqualificá-la) sofrem.

Essas crianças e adolescentes se sentem estranhos, errados, culpados. Sofrem, choram, se fecham. Ir à escola se torna um tormento, afinal, não é fácil ser chamado de puto, de veado, de sapata, de machorra, de traveca, de anormalidade e de uma série sem fim de ofensas.

Não é fácil apanhar.

Não é fácil ser ofendido sistematicamente.

Todos sofrem.

Alguns adoecem.

Outros se matam.

É por isso que qualquer vitória contra o preconceito deve ser comemorada.

Não interessa se a decisão favorável ao casamento de homossexuais foi nos Estados Unidos. Nós podemos comemorar. Na verdade, devemos.

Não interessa se a publicidade se aproveita da naturalização do amor entre iguais para vender produtos. No atual contexto, eu comemoro que propagandas ajudem a incutir no imaginário da sociedade a ideia de que é absolutamente normal o amor, o sexo, o carinho, a putaria, o flerte ou seja lá o que for entre duas pessoas do mesmo sexo.

A situação é tão preocupante que qualquer beijo gay em telenovela deve ser aplaudido, porque as pessoas assistem a novelas e precisam ver que o encontro das bocas dos casais de atores e de atrizes quer dizer que não há nada de errado com o que estão fazendo.

Hoje, com a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, o Facebook ficou repleto de “arcos-íris”.

Achei comovente.

A escalada moralista, conservadora, fundamentalista e preconceituosa está tão grande que qualquer arco-íris deve ser aplaudido. Até mesmo aquele que se abre no céu quando o sol se faz depois da chuva.

A natureza é sábia.

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