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“A prioridade no Brasil deve ser salvar bancos, proteger mineradoras e estimular o agronegócio?” | Entrevista com Plínio de Arruda Sampaio Jr.

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Fechamento de regime, plano emergencial para salvar o país e quem lucra durante a crise política e econômica no Brasil. Estes são alguns dos assuntos da conversa do SindisprevRS com Plínio de Arruda Sampaio Jr., que é doutor em economia aplicada e professor do Instituto de Economia da UNICAMP, e foi um dos palestrantes do XVI Congresso Estadual do SindisprevRS.

 

SINDISPREVRS: Frente à crise econômica, o governo apresenta uma política de enxugamento de gastos: diminuir o Estado, cortar recursos da educação, reduzir investimento na Previdência. Essa política da tesoura é capaz de resolver a crise econômica e os problemas que vêm com ela no Brasil?

PLÍNIO: Esse ajuste neoliberal é a política do grande capital. Ele vem sendo feito no Brasil desde 2015, com Dilma Rousseff. A dose dobrou com Temer, e agora triplica. O resultado é que nesse período o número de pessoas marginalizadas do mercado de trabalho aumentou em 13 milhões. Ou seja, é uma política que não resolve o problema, ela agrava a recessão. Ela é benéfica para alguns setores do Capital. O lucro dos bancos este ano foi recorde. O agronegócio? está sendo beneficiado. O extrativismo mineral? está sendo beneficiado. Mas o conjunto da economia brasileira, não. Então, essa é uma política tacanha que é feita para alguns. O Brasil não vai ter uma solução para essa crise sem mudar o modelo econômico. Ou, dentro deste modelo, a solução só virá quando a crise internacional for resolvida, e não há nenhuma perspectiva disso. Pelo contrário, o cenário internacional é bastante adverso.

 

SINDISPREVRS: Há uma discussão sobre a necessidade de termos um plano emergencial para o Brasil neste momento. Que elementos você aponta que deveriam estar presentes neste plano?

PLÍNIO: Eu acho que a primeira questão que precisamos refletir no Brasil é a prioridade: a prioridade é salvar bancos, proteger mineradoras e estimular o agronegócio, ou a prioridade é criar empregos? Se a prioridade for dar emprego (que é o que deve ser, visto que 1 em cada 4 trabalhadores está fora do mercado de trabalho) o ponto número 1 é fazer frente de trabalho. O governo tem que gastar, tem que contratar gente, para absorver essa massa de pessoas desempregadas. Para isso, é necessário revogar a EC 95, de congelamento de gastos, e é necessário revogar todas as demais políticas neoliberais. Não é uma mudança fácil de ser feita, e ela só será feita se o povo brasileiro construir força política para dizer “não! este caminho tá errado, nós vamos pelo caminho de superar a crise preservando os interesses do país e levando em consideração as necessidades do conjunto dos trabalhadores”.

 

SINDISPREVRS: Você aponta a violência como uma estratégia do governo para implementar as medidas antipopulares. Comparando com outras experiências e períodos históricos, é possível que tenha um fechamento de regime no Brasil, para uma situação mais autoritária?

PLÍNIO: A democracia brasileira sempre foi “meia-sola”. Mais democrática para um professor universitário, como eu, e muito pouco democrática para um pobre da periferia, sobretudo se for negro. Essa democracia é como uma sanfona, pode ampliar, dar uma abertura maior, ou pode fechar. Nós estamos num momento de fechamento. Porque a solução que a burguesia dá para a crise é uma solução contra os brasileiros: não dá emprego, não dá política social, não dá aposentadoria, não dá perspectiva para a população, não dá educação, ela só tira. Evidentemente, os brasileiros vão protestar, então a burguesia precisa de um governo duro. Tem um estreitamento, mas o grau não está definido, ele vai depender muito da capacidade de luta dos trabalhadores. Se os trabalhadores estiverem nas ruas, pressionando, esse fechamento pode até ser revertido. Se estiverem conformados e acreditarem na solução liberal autoritária, acreditarem que seus problemas serão resolvidos quando os capitalistas ganharem mais dinheiro, e quando vier uma mão dura, então o fechamento será maior.

 

SINDISPREVRS: Nossa tarefa é a luta?

PLÍNIO: Não temos outra solução, temos que lutar. Mas temos que lutar com um programa, abrir novos horizontes para o povo. E esta abertura passa por uma cirurgia na economia e na sociedade brasileira, com mudanças profundas. Temos que enfrentar essa burguesia que é antinacional, antissocial e antidemocrática.

 


 

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