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Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha

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Mulher negra: Mais do que vistas como lutadora, alguém que precisa ser vista como uma pessoa a ser cuidada, assim como todas aquelas que o são por ela.

 

Há 28 anos, um grupo de mulheres negras organizaram o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana. Através da estratégia da coletividade, concluíram que se as mulheres negras deste continente se unissem, sua força afirmativa e reivindicatória seria muito mais forte. Desta forma, em 1992, ocorreu o encontro que discutia sobre racismo, sexismo e suas formas de enfrentamento. Criou-se a partir deste dia uma rede de mulheres que permanece unida até hoje na luta das mulheres negras. Do encontro, nasceu o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, na data 25 de julho, que posteriormente foi reconhecida pela ONU, e tornou-se emblemático para pensar a força e representatividade destas mulheres. 1

A organização e luta das mulheres negras não iniciou em 1992 nas Américas, mas ao longo de séculos de diáspora africana, elas fazem de suas vidas a linha de frente na luta por melhores condições de vida para si e para seu povo. É dia também de Tereza de Benguela, liderança quilombola que em 1730 já organizava resistência e a vida em comunidade. É o exemplo de Dandara, Lélia Gonzalez, Angela Davis, Marielle Franco, Carolina Maria de Jesus, entre tantas outras que não se calaram diante da opressão que o racismo, o sexismo e o capitalismo representam na sociedade.

O Brasil é um país que nasce estruturado pelo racismo através do marco histórico do colonialismo nas Américas. E apesar desta história ser muito antiga, ainda nos dias de hoje o racismo opera enquanto propulsor de destruição da humanidade das pessoas negras, produzindo silenciamentos, e políticas de morte, inimigas do corpo negro. As mulheres negras são o elo da sociedade mais afetado quando o assunto é violência contra a mulher, e o feminicídio. O mapa da violência divulgado em 2019 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o IPEA, aponta que entre 2007 e 2017 mesmo com políticas voltadas ao combate à violência contra a mulher, as mulheres negras seguem sendo alvo de altos índices de violência e até mesmo do feminicídio: “Enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras teve crescimento de 1,6% entre 2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%. Em números absolutos a diferença é ainda mais brutal, já que entre não negras o crescimento é de 1,7% e entre mulheres negras de 60,5%.”2

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) deixa escancarado a vulnerabilização das mulheres na nossa sociedade, marcando recordes em casos de violência produzidas sobretudo no ambiente doméstico. Apesar de uma queda na notificação através de boletins de ocorrência, as mulheres estão mais vulneráveis durante esta crise sanitária, por estarem mais tempo com seus agressores, pela dificuldade de formalizar queixa, pela dificuldade financeira e desemprego, estando dessa forma menos protegidas por políticas de enfrentamento neste terrível cenário político que se apresenta no atual governo.3

Se tratando de mulheres negras, este quadro fica ainda mais delicado, no sentido de que além de vítimas dentro do próprio lar, a polícia e as ruas é quem também exerce a violência sobre o corpo negro. Inúmeras formas de extermínios, sejam eles subjetivo, corpóreos, como fica elucidado pelo caso da senhora de 51 anos que teve seu pescoço pisado durante uma abordagem por um policial (um homem branco), enquanto agonizava sem empatia alguma ou respeito pela sua dignidade humana.

Esses são retratos de uma sociedade marcada pelo racismo e sexismo, em que a vida de mulheres negras não são consideradas importantes. De modo que necessitamos de políticas de enfrentamento às múltiplas formas de violência, que sejam efetivas no cuidado dessas mulheres que sempre estiveram encarregadas no cuidado de crianças, homens e até mesmo das mulheres brancas. Mulheres negras precisam ser olhadas como seres humanos que necessitam de cuidado. Precisam de uma sociedade com uma mentalidade que reflita sobre a função compulsória escravocrata de cuidado em que a mulher negra foi colocada, para atentar para sua potência subjetiva que elas sempre destacaram, de ocupar o espaço que bem entender. Lugar de mulher negra é onde ela quiser. Lugar de respeito, lugar de cuidado e de visibilidade. Vidas Negras Importam!

 

1 https://www.geledes.org.br/hoje-na-historia-25-de-julho-dia-internacional-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha/ acesso em 21-07-2020.

2 https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/06/Atlas-da-Violencia-2019_05jun_vers%C3%A3o-coletiva.pdf pag 38.

3 https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2020-06/casos-de-feminicidio-crescem-22-em-12-estados-durante-pandemia acesso em 21-07-2020.

 

Por Liliana Dantas da Silva – Mulher, negra, acadêmica de Psicologia.

Secretaria de Gênero e Combate à Discriminação Racial

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