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“É importante atacar não só o efeito do problema, que é o Bolsonaro, mas a causa, que é o capitalismo” aponta Plinio Sampaio Júnior sobre eleições no Brasil

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Durante o XVII Congresso do SindisprevRS, a Secretaria de Imprensa entrevistou o economista, pesquisador e professor Plinio de Arruda Sampaio Júnior sobre a atual situação do Brasil. Confira abaixo.

O eleitor brasileiro, hoje, deve votar consciente de quê?

Plinio: Eu acho que ele deve votar muito consciente da realidade concreta do país e do mundo: uma crise profunda do capitalismo, que tem um impacto devastador sobre a periferia do sistema capitalista, onde está o Brasil. 

É uma eleição que foi agendada pela burguesia, que tem consenso em relação a manter o modelo econômico, mas diverge em relação a como consolidar o golpe contra os trabalhadores que começou em 2014 com o estelionato eleitoral da Dilma, que dobrou de meta com o Temer e foi levado ao Paroxismo com Bolsonaro. A esta divisão (entre a burguesia) correspondem duas candidaturas: ou consolida por dentro das estruturas do que sobrou da Nova República (chapa Lula-Alckmin) ou consolida com um golpe contra o estado de direito (Bolsonaro).

São o mesmo projeto político, mas em doses diferentes. Uma é a dose máxima e a outra é a dose mínima. É claro que a dose mínima faz menos mal do que a dose máxima. Mas ela não resolve os problemas do Brasil. 

Para resolver os problemas do Brasil é importante atacar não só o efeito do problema, que é o Bolsonaro, mas a causa, que é o capitalismo. As causas do problema são as contradições profundas deste modelo. Então, precisamos acumular força para mudá-lo. Para isso nós temos que ter um projeto alternativo e uma classe trabalhadora mobilizada. 

Sobre essas contradições, podes citar exemplos?

Plinio: Eu acho que o exemplo maior é a fome, são 33 milhões de brasileiros, 15% da população passando fome aguda, não tendo o que comer. E mais da metade da população em insegurança alimentar. Eu acho que esse é o sintoma extremo da deterioração das condições de vida dos trabalhadores. Mas tem o desemprego, a precarização do trabalho, o sucateamento das políticas públicas, a violência policial contra os pobres. Tudo isso é parte de um processo só.

Que riscos o Brasil corre com a reeleição de Bolsonaro?

Plinio: Eu acho que o Brasil corre o risco de uma escalada autoritária com a eleição do Bolsonaro ou com o eventual golpe do Bolsonaro (que eu acho pouco provável, mas não impossível).

E mesmo com o contra-ataque do bolsonarismo após uma vitória do Lula. O que as pessoas precisam estar conscientes é que não se barra uma ofensiva autoritária apenas com voto, se barra com mobilização popular e com uma política que ataque as causas do problema.

Então, o Lula representa um alívio temporário, mas tá longe de representar qualquer solução para nenhum dos problemas do Brasil.

 

Qual seria a solução?

Plinio: A solução passa, primeiro, por mudar o consenso burguês, que é do modelo econômico. É o modelo neoliberal baseado na desigualdade social crescente. Então, isto tem que ser mudado. 

O modelo alternativo para resolver o problema econômico seria organizar o país em função das necessidades emergenciais dos brasileiros. A começar pela revogação do teto de gastos, por uma profunda reforma fiscal que organize as finanças públicas em função das necessidades do gasto público e não das necessidades de fazer superávit para pagar juros. E daí começar grandes transformações, reforma urbana, agrária, enfim, enfrentar os problemas concretos da população, problema do meio ambiente, proteção das populações originárias. 

E do ponto de vista político, a solução não é mais autoritarismo, fechar a democracia, não é intervenção militar. Mas é intervenção popular. A gente precisa de mais democracia, não meramente formal, na lei, mas uma democracia que esteja alicerçada nas estruturas sociais. E o ponto fundamental é enfrentar o problema da segregação social, que tem 200 anos de história do Brasil (independente), mais os 300 do Brasil colonial. Chegou a hora e a vez do Brasil e é por isso que estamos polarizados: os de baixo não aguentam mais e os de cima não querem abrir mão dos privilégios.

 


 

 

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