João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi morto por seguranças no estacionamento do Carrefour
Na noite desta quinta-feira (19), um homem negro de 40 anos foi espancado até a morte por um segurança e um PM temporário, no estacionamento do Supermercado Carrefour em Porto Alegre, após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do caixa.
As imagens divulgadas na internet são fortes, mostram João Alberto Silveira Freitas sendo espancado até a morte por dois seguranças de uma empresa terceirizada. A vítima não resistiu aos vários golpes desferidos em sua cabeça e morreu no local.
De acordo com informações divulgadas em toda a imprensa, um desentendimento entre uma funcionária do caixa, que se sentiu ameaçada, e João Alberto, deu início a mais um ato de racismo dentro do Carrefour. Os seguranças foram chamados e conduziram o homem, aposentado por invalidez, até o estacionamento do supermercado onde aconteceram as agressões. O segurança e o PM temporário, Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, ambos brancos, foram detidos e presos em flagrante por homicídio qualificado. De acordo com testemunhas, eles teriam subido em cima do corpo da vítima e continuado as agressões, mesmo após o desmaio.
Com tradição em atos de racismo, o Carrefour, somente em 2020, figura nacionalmente pela terceira vez em ações que resultam em morte ou em humilhação da pessoa negra.
Em 14 de agosto deste ano, o vendedor Moisés Santos, que trabalhava como promotor em uma Unidade do Carrefour na cidade de Recife em Pernambuco, sofreu um mal súbito e acabou falecendo. Para não terem de fechar a loja, os funcionários mantiveram o corpo do homem coberto com guarda-sóis do mostruário das 8h da manhã até o meio dia, horário em que o Instituto Médico Legal da região realizou a remoção.
Em primeiro de setembro deste ano, uma funcionária do Grupo Carrefour foi demitida, após denunciar um ato de racismo que sofreu no trabalho. Nataly Ventura da Silva, de 31 anos, relatou que sofreu discriminação de um colega, logo que começou a trabalhar no local. De acordo com o Ministério Público do Trabalho, a funcionária foi surpreendida com a frase “só para branco usar” em seu avental. A mensagem foi assinada e escrita por Jeferson Emanuel Nascimento. Ele assumiu a autoria.
Após denunciar o fato à gerência, a vítima foi demitida por ter “se envolvido em situações de conflito com outros funcionários”.
O Carrefour não foi surpreendido com o ato de racismo, pois documentos internos do mercado mostravam que o mesmo homem já havia sido acusado de racismo e agressão contra outra colega de trabalho na mesma unidade.
O agressor só foi desligado, após o início da investigação do caso por promotores.
Para Nilza Chagas, diretora da Secretaria de Gênero e Combate à discriminação Racial do SindisprevRS, é evidente que o assassinato teve motivação racial. “Isto acontece por ódio à pessoa negra, talvez até por orientação dos executivos do grupo”, disse Nilza ao comentar outros casos de discriminação noticiados anteriormente e envolvendo a marca. “Há uma distorção na sociedade que olha para a pessoa negra como suspeita, criminosa, sem qualquer razão aparente, além é claro, do preconceito, herança escravagista no Brasil”.
Sangue Negro derramado às vésperas do Dia da Consciência Negra
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado hoje, 20 de novembro, foi instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011.
A data faz referência à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil.
Para a Karen Santos, vereadora negra mais votada de Porto Alegre – com 15.702 votos – o Dia da Consciência Negra nunca foi um dia de comemoração, mas de luta. Karen compõe a bancada negra da câmara municipal da Capital Gaúcha, e elabora um documento que será entregue na tarde de hoje em uma reunião com o procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Sul, Fabiano Dallazen, com reivindicações e providências sobre o assassinato de João Alberto Silveira Freitas.
“Este é um fato simbólico no sentido do genocídio histórico do nosso povo, do extermínio em massa da nossa juventude, do racismo institucional que se dá dentro das instituições públicas e privadas”, destacou a vereadora ao lembrar que – infelizmente – este fato “faz parte do cotidiano das pessoas negras”.
Karen Santos e os membros da bancada negra da câmara vão ampliar os debates para que se viabilize a punição de fatos como este em “um debate de justiça para criminalizar o que aconteceu, tanto na esfera da empresa terceirizada, quanto do super mercado e também do próprio Estado Brasileiro”.
SindisprevRS repudia ato de violência que resultou no assassinato de João Alberto Silveira Freitas
O SindisprevRS, por meio da Secretaria de Gênero e Combate à discriminação Racial, vem a público para repudiar o ato de violência ocorrido na noite de quinta-feira (19), no estacionamento do Supermercado Carrefour em Porto Alegre, em que dois seguranças assassinaram o aposentado por invalidez, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos.
João Alberto era um homem negro que foi brutalmente espancado por dois homens brancos, em uma atitude cruel, irresponsável e criminosa. O Sindicato repudia todo tipo de crime, em especial os motivados por discriminação racial.
Nosso histórico de combate ao racismo iniciou oficialmente em 1998 com a criação da Secretaria de Gênero e Combate à discriminação Racial, que desde então, representa os trabalhadores ligados à entidade fazendo a luta contra o racismo através de diversas ações afirmativas.
Neste mês de novembro, lançamos a cartilha “Racismo e suas Facetas no Mundo do Trabalho: Saber para Combater” que traz em seu conteúdo questões importantes para a discussões raciais e definições sobre o racismo estrutural, institucional e interpessoal.
Acreditamos que o debate dessas questões pode contribuir para uma sociedade mais justa e que deixe de colaborar com a promoção do genocídio negro em nosso país. A máxima de que o racismo mata se comprova hoje, na morte de mais um brasileiro negro, o senhor João Alberto Silveira Freitas.
A diretoria colegiada do SindisprevRS se solidariza com a família da vítima e espera que o Estado Brasileiro, que autoridades locais, o Ministério Público do Rio Grande do Sul e o Judiciário garantam que esse crime seja exemplarmente punido e, para além disso, medidas legais que não permitam a perpetuação da cultura de ódio e genocídio do povo negro.
Vidas Negras importam, nós nos importamos.