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MAS: “O verdadeiro processo de mudanças começa na próxima gestão”

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O cenário eleitoral se define na Bolívia. No dia 7, partidos e agrupações cidadãs inscreveram seus candidatos para a disputa eleitoral a se realizar em 6 de dezembro. O Movimento ao Socialismo – Instrumento para a Soberania dos Povos (MAS-IPSP) rearranja a tática para “refundar o Estado”.
O presidente boliviano Evo Morales terá sete adversários na busca de sua reeleição. Três deles se colocam à sua esquerda, todos de ascendência indígena. Alejo Véliz, ex-companheiro do atual mandatário durante sua militância na Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB), encabeça a chapa da organização indigenista radical Pueblos por la Libertad y Soberania (Pulso). Román Loyaza, ex-deputado federal, se apresenta pela agrupação cidadã Gente, após romper com o partido que foi fundador, o MAS-IPSP, criticando a manutenção de dirigentes neoliberais na atual gestão. Já René Joaquino, atual prefeito da cidade de Potosí, se apresenta pela organização Alianza Social (AS) e se define como a “esquerda democrática não-confrontacional”.
As outras quatro candidaturas estão à direita de Morales no espectro político. Ana Maria Flores, pelo Movimento de Unidade Social Patriótica (MUSPA), e Remi Choquehuanca, pela Bolívia Social-Democrata (BSD), são os nomes conservadores de baixa expressão. Já o ex-militar e governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, pelo Plan Progresso para Bolívia – Convergência Nacional (PPB-CN), e o mega-empresário Samuel Doria Medina, da Frente de Unidad Nacional (UN), conformam a oposição de direita com maior visibilidade nacional.Até o momento, o alto número de candidaturas não foi capaz de abalar a popularidade de Morales, como revela a última pesquisa sobre as eleições presidenciais, divulgada no dia 13. O estudo avaliou a aceitação dos candidatos e o atual presidente teve o mais alto índice: 55%. Em segundo lugar aparece Manfred Reyes Villa com 25% e, em terceiro, Samuel Doria Medina, com 24%. A pesquisa, que conta com uma margem de erro de 4,9%, abordou as maiores cidades da Bolívia: El Alto, La Paz, Cochabamba e Santa Cruz. Porém, como a votação rural tradicionalmente é massiva em Morales, especula-se que sua vantagem seja ainda mais larga.


Crescimento fascista

O analista político Hugo Moldiz destaca que só um milagre é capaz de tirar a reeleição de Morales. Porém, ele alerta que a larga vantagem não pode impedir que a esquerda preste atenção no crescimento de sentimentos fascistas que serão semeados pela candidatura do PPB-CN. Manfred Reyes Villa é um ex-militar com passagem pela Escola das Américas em 1976 e o seu candidato à vice, Leopoldo Fernández, é o ex-governador do departamento de Pando, retirado do cargo em setembro de 2008 por ser acusado de ordenar o massacre na localidade de Porvenir que deixou pelo menos 13 mortos e 47 feridos.
Segundo Moldiz, a candidatura de Villa expressa “um estado de ânimo de setores da classe média com inclinação cada vez mais fascistóide”, que pensam que em dezembro é a democracia que está em jogo no país: ou o Evo perde e a democracia avança ou ele ganha e o país segue rumo ao autoritarismo. Dada a baixíssima possibilidade de Morales perder a eleição, Moldiz suspeita que Villa pode estar preparando terreno para depois de dezembro:“Há um pensamento militar, muito bem expressado pelo Che Guevara, que diz que quando se vão fechando todos os caminhos legais de luta, não resta outra opção, senão a revolução. Levando isto ao plano da direita, fica claro que a medida que se fecha a possibilidade política de tirar, não mais o Evo, mas a nova classe que ocupou o seu lugar no Estado, a ultra-direita vai recorrer novamente a formas não-democráticas de oposição. E esse setor ganhou valentia depois dos episódios de Honduras e das bases militares dos EUA na Colômbia. E eles estão esperando que a direita ganhe no Brasil, que a ultra-direita ganhe no Chile, que haja retrocesso na Argentina, para mudar a correlação de forças. Há uma contra-ofensiva imperial, da qual Manfred e Leopoldo fazem parte.”


A tática do MAS

De acordo com o deputado federal e porta voz de campanha do MAS-IPSP, Jorge Silva, o próximo pleito é a ponte que permitirá a Bolívia transitar de um Estado colonial para o a construção do Estado Plurinaiconal, porque competirá à próxima legislatura aprovar as leis que darão vida concreta à nova Constituição. Para isso, o MAS-IPSP quer manter a hegemonia que tem na Câmara de Deputados e ganhar o Senado, que está nas mãos da oposição.
Porém, Silva aponta que o objetivo não é a maioria simples, mas sim dois terços de todo o Congresso. Pela legislação eleitoral atual, caso o MAS-IPSP obtenha os mesmos 53% das últimas eleições, a maioria simples está garantida nas duas casas. Para obter os dois terços, os massistas necessitarão de 65 a 70% dos votos.
“Precisamos dos dois terços porque queremos acelerar a construção do Estado Plurinacional e a aprovação de algumas leis vão exigir esse quorum. Se conseguimos isso, entramos na fase decisiva do projeto político do MAS e poderemos estar no poder por mais 20 ou 30 anos. Nesses três anos e meio estávamos submetidos ao modelo de Estado neoliberal. O verdadeiro processo de mudança começa a partir da próxima gestão”, sentencia.


Classe média

Para entrar nesse novo momento do processo político boliviano, o MAS-IPSP optou por colocar na cabeça de suas listas de candidatos a deputados e senadores, em diferentes departamentos, representantes da classe média, como é o caso da ex-jornalista e defensora pública, Ana Maria Romero de Campero, candidata a primeira senadora do partido em La Paz.Para o analista político Moldiz, a classe média é hoje o fator de disputa eleitoral. De um lado a direita quer fortalecer seu discurso e seu futuro político nesses setores médios e, de outro, um governo indígena e popular quer expandir sua influência.
“O que faz o MAS é passar de um primeiro momento, de radicalização discursiva e de ações de força social – responsáveis por aprofundar o atual processo –, para entrar num segundo momento de incorporação dos setores mais amplos do país e ocupar todo o espectro político. A questão aí é ver qual será o caráter do programa”, pondera.

Vinicius Mansur/ correspondente em La Paz (Bolívia)

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