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Nota de repúdio ao Big Brother Brasil e ao participante Daniel por abuso sexual

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*Nota do Setorial de Mulheres do coletivo estudantil Barricadas Abrem Caminhos em repúdio ao caso de abuso sexual no Big Brother Brasil.

Neste domingo, 15 de janeiro, o programa exibido pela Rede Globo, Big Brother Brasil, mundialmente conhecido por seu forte apelo popular, mostrou-se como um verdadeiro reality show. Sempre em busca de uma maior audiência, todo enredo consiste em um esquema de confinamento, que teoricamente busca retratar a realidade com personagens reais. Guardadas as proporções, de que este confinamento não expressa nem de longe as contradições e expressões de desigualdade presentes em nossa sociedade, o que podemos apontar como fora de um enredo ficcional, com alguma base na realidade, é a óbvia presença de elementos de opressão, disseminados em nossa sociedade, na preparação e consentimento de atitudes machistas, homofóbicas, de violência contra a mulher.

O acontecimento que está em destaque refere-se a um caso de estupro, praticado por um dos integrantes do programa, Daniel, sobre outra participante – Monique. Após uma festa, a integrante estaria sob o efeito do álcool, totalmente desacordada. Daniel, ignorando o estado inconsciente, abusa sexualmente da moça, em atitudes de clara violação ao corpo da mulher. Monique, ali desacordada, teve desrespeitada não apenas sua condição momentânea, mas também sua integridade moral ao ser alvo de comentários que remetiam a ela estar gostando das atitudes do rapaz ou de não ser um problema passar por aquilo.
A polêmica que se seguiu ao fato, foi a de afirmar se o caso correspondia ou não a um ato de estupro. Buscando esta categorização, os artigos 213 e 217-A § 1º do Código Penal, referem-se ao crime em casos de conjunção carnal ou práticas de atos libidinosos, direcionados àquele que não pode oferecer resistência. Enfatizamos a necessidade de não subestimarmos o fato em suas especificidades. Programações como esta circulam em meios de muita visibilidade, trabalham inclusive na formação de consciência em nossa sociedade. Um estupro não pode ser tratado como uma brincadeira, ainda que de mau gosto, não deve ser tratado como algo natural na sociedade, e as mulheres não devem ser criminalizadas pelo estupro, como se a situação fosse culpa da vítima. A participante chegou a ser chamada pela produção para esclarecer o que havia acontecido e não sabia explicar, o que comprova que Monique não tinha consciência do que estava acontecendo, mesmo que estivesse acordada.
Neste sentido vemos que alem da irresponsabilidade da Rede Globo, a emissora pratica também um crime correspondente a omissão de socorro, não oferecendo assistência frente ao risco pessoal sofrido. Ao contrario disso, o que vemos é a manipulação da informação fornecida, como o YouTube e a Globo terem tirado rapidamente os vídeos da internet, em seguida mostrarem a cena editada, alegando que a participante não estaria desacordada. Este é um típico caso de manipulação da informação, para evitar possíveis problemas, a produção, que deveria garantir a segurança de cada participante do programa, na contramão, alem de não prestar socorro, apresentou a seguinte publicação ao vivo aos assinantes do pay-per-view: “Está rolando o clima entre Daniel e Monique debaixo do edredom. Ele se mexe, parece acariciar a sister, mas a loira não se move.”
Enquanto muitos pediam a expulsão de Daniel no Twitter, outros chegaram a atacar Monique, alegando que ela não deveria ficar bêbada e que deveria se preservar. Nós, Mulheres do Barricadas, entendemos que somos livres para fazer o que bem entendemos com nossos corpos, e não legitimamos nenhuma atitude como a do participante, de se aproveitar da condição da companheira e tratá-la como um objeto, função essa atribuída também pela Globo ao aceitar as atitudes do rapaz sem interferência.
A juventude vivência cotidianamente esse tipo de violência, para além da construção histórica da subordinação da mulher a vontade masculina, a mulher recebe menores salários, é responsável apenas por atividades que envolvam a reprodução do trabalho, ligados a serviços domésticos, além da coisificação do corpo da mulher, tratado como mera mercadoria. Observamos muitos destes aspectos presentes dentro do nosso cotidiano, nas atividades familiares, relacionamentos, cotidiano universitário, como em trotes machistas, ou em festas que somos coisificadas, sendo esta ridicularização voltada contra nós mesmas, em agressões justificadas por uma suposta exposição excessiva, sendo a culpa sempre da mulher, e não de quem ataca.
Para milhões de brasileiros a principal fonte de informação e entretenimento ainda é a Rede Globo. A imprensa brasileira é concentrada nas mãos de poucas famílias e a emissora é a maior representante deste oligopolio. Afirmamos assim a necessidade de não nos calarmos frente a casos explícitos de opressão e violência como este apresentado. Nós, Mulheres do Barricadas, registramos nosso repúdio à Rede Globo e ao participante Daniel, pela manutenção de uma lógica machista e de violência contra a mulher.
A mídia é um dos principais espaços onde se naturalizam comportamentos machistas que se expressam no nosso cotidiano.  Em situações como essa a população se vê com poucos recursos para punir e impedir que a Rede Globo continue com programas que incentivem a violência e o machismo, como ocorreu na tentativa de retirada do quadro do programa Zorra Total. Por isso, defendemos o Controle Social da Mídia, como condição essencial para o combate ao machismo nos meios de comunicação.
Precisamos romper com a lógica que afirma o corpo da mulher como propriedade do homem,  que nos coloca a disposição para prontamente ceder as suas vontades. A luta pela democratização da comunicação é também uma luta pela emancipação das mulheres!
Setorial de Mulheres do Barricadas
 

 

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