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O 13 de maio e a luta diária que temos de travar

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Em tempos de incertezas e retrocessos, mesmo o 13 de maio, data em que o Movimento Negro não comemora a abolição da escravatura, por a mesma não ter sido feita de forma a integrar o negro à sociedade, apenas dando a liberdade de ficar entregue à própria sorte, serve para refletirmos os rumos que o país está tomando e os reflexos para a grande maioria da população trabalhadora e negra.

Em 2015, a ONU instituiu a ‘Década Internacional dos Afrodescendentes’. Nesse período que vai até 2024, a comunidade internacional afirma que os afrodescendentes representam um grupo distinto, cujos direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos. Mas de que forma isso pode ser feito, especialmente agora? Conforme dados do IBGE(2015), nos últimos 10 anos o número de jovens negros ou pardos que conseguiram chegar à Universidade cresceu em mais de 30%, chegando a 45,5%, quase 30 pontos percentuais abaixo do número de jovens brancos que conseguiram entrar em um curso universitário.

Apesar de ainda estar aquém do desejado, não há como negar que houve um grande avanço com a questão das cotas, que deveriam ter sido implantadas há muito tempo, garantindo um futuro diferente para milhares de brasileiros que sempre viveram à margem da sociedade por falta de oportunidade. Medidas afirmativas como essas vem fazendo a diferença para quem até então não via a possibilidade concreta de um dia pisar em uma universidade e ter um futuro diferente dos seus pais e avós, bisavós, trisavós, que sofreram as agruras de uma vida marcada pela dificuldade e indiferença, por um dia terem sido escravizados em uma terra distante da sua, sem ter referências para seguir, muito menos condições, dadas a tantos outros imigrantes que aqui chegaram.

Por falar em imigrantes, muitos que tem aqui chegado, de países vizinhos ou da África, estão frequentemente aparecendo na imprensa como mais uma vítima em casos de racismo e discriminação. Mas como são praticamente anônimos, as notícias logo cedem lugar a outras e os casos são esquecidos, virando no máximo estatística. Porém, nos últimos anos, uma serie de outros casos de preconceito e racismo tomaram conta das redes sociais e de parte da imprensa. Se antes eram casos isolados, agora são fatos corriqueiros.

Não se sabe se é pela falta de punição, pela crença de que a justiça é lenta e falha, ou pelo famoso `não dá nada`, mas os racistas e preconceituosos estão saindo das sombras e mostrando a cara, sem o mínimo pudor. Começaram com o caso do goleiro Aranha, seguidos de casos com outros jogadores, como Daniel Alves, como da jornalista Maria Júlia Coutinho (a Maju, garota do tempo, do Jornal Nacional), e de atrizes como Taís Araújo, Sheron Menezes, Juliana Alves. Esses tiveram grande repercussão nacional, a maioria aparentemente tirou de letra as ofensas e teve apoio de milhares de internautas e colegas famosos, mas o racismo no dia a dia, com gente desconhecida, fica muitas vezes escondido atrás da vergonha, da humilhação passada na rua, na faculdade, ou no trabalho, ou mesmo da impotência de reagir sem saber se a reação não vai ser ainda pior.

Há cerca de duas semanas, uma imagem marcante registrada na Europa simbolizou muito o momento atual: a foto de uma mulher negra tentando parar uma marcha nazista na Suécia rodou o mundo via redes sociais. Ativista do grupo Afrophobia Focus, Tess Asplund protestou contra a manifestação neonazista no 1º de maio. Ela literalmente marchou contra um grupo de homens brancos, que defendem a supremacia da raça branca. Isso em pleno século XXI, quando deveríamos pelo menos ter aprendido um pouco com as aulas de história. Algo inimaginável de se pensar há alguns anos..

Mais recentemente, na final do campeonato gaúcho de futebol, a RBS/Globo deu mais um recado subliminar, pero no mucho, de que para eles o bonito, o padrão, é ser branco: refizeram o Saci colorado, mascote símbolo do Internacional, em versão branca, ou com muito boa vontade diria-se que muito levemente parda, que nada lembra o moleque negro saci com seu cachimbo, que os colorados tanto amam e que, sim, representa o clube criado em 1909. É o plano de marketing da emissora, sabe-se lá se com a conivência do clube em desvincular a imagem do mesmo das camadas mais populares, nas quais muitos torcedores são negros e pardos. Como se isso já não fosse possível para quem vai a campo, visto que a julgar pelo preço dos ingressos, de popular o futebol já não tem mais nada, apenas o hábito de se ouvir no “radinho” de pilha ou mesmo na televisão dá ao torcedor realmente popular a chance de compartilhar um jogo do seu time.

Num país onde se faz da consulesa da frança em São Paulo, Alexandra Loras, a porta-voz das mulheres negras e pardas brasileiras, onde tantas outras poderiam ocupar esse mesmo lugar, mas não ocupam simplesmente porque isso não rende tanto ibope quanto dar voz à bela negra francesa e famosa, não é de se esperar maiores avanços no que se refere à discriminação e preconceito com brasileiras e brasileiros negros ou mestiços, que, aliás, são a maioria da população.

O preconceito no Brasil sempre foi disfarçado de alguma forma, a mais bonachona dessas formas eram as chamadas “brincadeiras”, que tanto já conhecemos e ouvimos por aí, mas de uns tempos para cá, parece que as pessoas resolveram escancarar o preconceito de forma a ninguém ter mais dúvida a respeito de que estamos lidando com ele. É preciso ter coragem para denunciar casos de racismo e preconceito e penalizar os responsáveis.

Nessa hora, é fundamental lutar pela manutenção de políticas públicas afirmativas de inserção do negro nas universidades e no serviço público, que nada mais são do que um resgate social feito pelo governo, que foi negado desde a abolição da escravatura. É preciso incentivar que as leis que buscam informar a criança desde cedo na Escola sobre as culturas afro e indígena sejam aplicadas, bem como, que se invista na formação e capacitação dos professores, pois somente esclarecendo às crianças teremos uma geração mais consciente dos erros cometidos no passado e assim evitar que sejam repetidos. Somente com os negros conquistando seu espaço no mercado de trabalho nas mais diversas profissões vamos poder equilibrar a História e ter uma nação realmente forte, onde há igualdade de oportunidades e de realidades.

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