Agenor Marcelino, 63 anos, sofreu um derrame cerebral há 10 anos. Sem condições de trabalhar, teve de deixar o emprego de corretor de imóveis em uma empresa no bairro Moinhos de Vento. O derrame resultou em prejuízos graves para a fala, já que o córtex cerebral foi afetado. Desde 2001, a recuperação era acompanhada por uma fonoaudióloga no posto de saúde da Vila dos Comerciários, na Vila Cruzeiro, zona sul de Porto Alegre.
Há dois anos, a prefeitura de Porto Alegre retirou a fonoaudióloga do posto da Vila Cruzeiro. Sem receber explicações, o grupo de pacientes – quase todo ele com sequelas parecidas a de seu Agenor – deixou de receber o atendimento. Entre promessas e pontos de interrogação por parte da prefeitura, os pacientes aguardam até hoje um profissional no posto. Desde 2009, pouco mais de 10 pacientes (foto) se reúnem toda a segunda-feira pela manhã para não perder o convívio. Além disso, aplicam os aprendizados do tratamento em longos diálogos para não perderem, de vez, a motricidade da fala.
“Há dez anos, quando comecei o tratamento com a fono, não falava uma palavra. Era triste, angustiante e tive de ter muita força de vontade. Desde 2009, quando perdemos a nossa fonoaudióloga, a auto-estima caiu. Temos amigos que acabaram ficando depressivos com a falta de atendimento”, disse. Seu Agenor acrescentou que o tratamento significava muita mais que um acompanhamento médico, pois a possibilidade de comunicação através da fala é a consolidação das relações humanas e do convívio com a própria família e amigos.
“Obtivemos a informação de que a prefeitura de Porto Alegre não dispõe vagas para fonoaudiólogos em concurso público há 12 anos. É inadmissível, tendo em vista a demanda de pessoas que precisam dessa especialidade através do SUS”, cobra Joel Soares, diretor do Sindisprev-RS.