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Pandemia de CoronaVírus e Censura

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Precisamos falar disso hoje, dia em que lembramos os 56 anos do Golpe Militar no Brasil

 

O dia 31 de março de 2020 iniciou com mais de 40 mil mortes em todo o mundo por conta da pandemia de Coronavírus. No Brasil, enquanto essa reportagem era escrita, 5.717 pessoas foram infectadas e 201 brasileiros morreram vítimas da COVID-19. (Dados do Ministério da Saúde).

Em meio a esses números, que vêm dobrando no país a cada três dias, autoridades ligadas ao governo federal comemoravam em suas redes sociais o que chamam de “Revolução Militar”. O Golpe de 1964 deflagrado há 56 anos, que está sendo comemorado em meio à crise, foi um período de mortes violentas cometidas pelo Estado, de cerceamento das liberdades individuais e também da liberdade de imprensa, e que durou 21 anos.

 

E por que precisamos falar disso?

Em meio à crise do Coronavírus, o Presidente da República vem se opondo fortemente às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). No último sábado (28), Bolsonaro descumpriu o decreto de isolamento e visitou um centro comercial em Brasília, gerando aglomeração de pessoas e, posteriormente, uma série de críticas nas redes sociais e por parte dos governadores de estado, que até o momento, seguem medidas internacionais para basear suas ações no combate à pandemia.

Jair Bolsonaro tem contrariado às orientações do seu ministro da saúde, o médico Luíz Henrique Mandetta, que defende o isolamento social como a medida mais eficaz para evitar que o número de infectados leve o sistema de saúde pública ao colapso, como na Itália e Espanha.

Na segunda-feira (30), o presidente tomou uma decisão que pode por em cheque as informações sobre a evolução da contaminação no Brasil.

A partir de agora, todas as coletivas de Imprensa serão realizadas no Palácio do Planalto e qualquer informação da pasta da saúde deverá passar pelo crivo da Secretaria de Comunicação do Governo Federal (Secom).

A medida é vista como um tipo de Censura, e não poderia ser diferente. Bolsonaro convocou atos para o dia 15 de março deste ano pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), a exemplo do que os militares fizeram em 1964, ano em que iniciou a ditadura no Brasil.

 

O que nos mostra a história?

A pandemia do Coronavírus é constantemente comparada à Gripe Espanhola de 1918, logo após a Primeira Guerra Mundial. Durante a primeira guerra, 9 milhões de pessoas morreram em meio aos confrontos. A Pandemia vitimou 50 milhões de pessoas, o que correspondia à metade da população do planeta.

O presidente Rodrigues Alves morreu de gripe espanhola, ele havia sido eleito presidente do Brasil pela segunda vez, e não pode tomar posse. Ele foi a figura mais notória vítima da gripe espanhola. Ao todo, mais de 300 mil pessoas morreram no Brasil.No início, as autoridades também ficaram despreocupados com a proliferação da pandemia, porque o Brasil estava distante da Europa, com o Oceano Atlântico nos separando”, conta Nice Passos, professora de história que atua na rede pública estadual de ensino.

A professora se preocupa com as decisões que o chefe do executivo vem tomando, principalmente após o anúncio do que ela chamou de censura prévia: “O dever do Estado é garantir a vida dos seus cidadãos, omitir informações coloca em risco a população”.

 

Durante a ditadura militar, a censura colaborou com o avanço da epidemia de Meningite

Em 1970, um surto de Meningite iniciou no Brasil. Com o avanço dos casos, os militares perceberam que a epidemia poderia se espalhar por todo o país.

A imprensa foi proibida de informar sobre a epidemia, pois o governo da época entedia que a as notícias poderiam gerar pânico e atrapalhar a economia, um discurso muito parecido com o que vem sendo amplamente divulgado por Paulo Guedes e pelo próprio presidente.

Em 1974, quando era impossível não tratar do tema, mais de 67 mil pessoas já estavam infectadas. Médicos eram pressionados a omitir nos atestados de óbito a causa mortis dos pacientes e os jornais, ainda assim, não podiam dar notoriedade ao fato.

Até hoje é incerto o número total de vítimas da epidemia que assombrou o Brasil, deixando quase nenhum registro documental.

Sempre há um perigo muito grande quando um governo decide omitir informações da sua população, o perigo maior é colocar as pessoas em risco, pois no momento que dados são filtrados pelo governo, a população não sabe ao certo a extensão da pandemia, o número de mortos para tomar os devidos cuidados… Uma medida dessas é um desrespeito aos cidadãos”, afirmou Nice.

Professora Universitária e Mestre em Processos e Manifestações Culturais, Andreia de Vargas Souza defende a liberdade da informação de forma universal. “O acesso à informação pública é fundamental para uma sociedade democrática, a informação gerada pelo Estado é um direito que garante a cidadania e não pode ser restringida, sob pena de censura”.

Para Andréia, as medidas de filtragem de informações do governo prejudicam o processo de comunicação “a medida que o governo informa apenas o que lhe convém e o que não o prejudica politicamente, cria-se uma via de mão única dos fatos, cerceando o cidadão do direito a plena verdade, em uma atitude antidemocrática”.

 

Redes Sociais e WhatsApp

No campo de batalha digital, defensores do presidente e opositores travam verdadeiras guerras em nome da defesa de suas ideias.

Entre “memes” e “textões”, é fácil encontrar dois grupos: os defensores das políticas de isolamento social, para evitar o avanço do coronavírus, e os que defendem com unhas e dentes a retomada à vida normal, à defesa de todas as ideias de Jair Bolsonaro e a volta da ditadura militar.

Existe um saudosismo quanto ao passado, uma romantização de períodos tenebrosos, como a ditadura civil-militar de 1964-1985. Este fenômeno não é só no Brasil. Na Rússia, muitas pessoas sentem saudades da ditadura stalinista” afirma Nice Passos relembrando que durante o “Milagre Econômico” o PIB brasileiro chegou a 14% em 1974, e que a propaganda ideológica e slogans como “Ninguém mais segura este país”, aumentava a sensação de segurança dos cidadãos.

No entanto, a historiadora adverte que esse crescimento elevado do PIB aconteceu num período em que o Brasil possuía 70 milhões de habitantes – contra os atuais 208 milhões – e que para alcançar esse desenvolvimento os militares contraíram dívidas a juros altos junto ao Fundo Monetário Internacional. Um crescimento considerado artificial.

Ela reforça que eventos como Ato Institucional Nº 5 (AI-5), fechamento do congresso, suspensão de habeas corpus a qualquer pessoa acusada de crime contra a segurança nacional, ocasionou prisões, torturas, mortes “durante o estado de exceção, em que o Estado ao invés de proteger os seus cidadãos, retirava direitos e utiliza instrumentos dentro do próprio Estado para promover um verdadeiro terrorismo contra a sua população”.

 

Conhecer os fatos históricos pode poupar bastante dor de cabeça, mas onde procurar uma fonte segura de informação?

Com avanço das tecnologias, o celular é o instrumento mais rápido para se ter acesso as informações. E o WhatsApp é fonte inesgotável de vídeos, áudios e links com manchetes sensacionalistas.

Terreno fértil para disseminação de Fake News, no aplicativo de mensagens, um boato se transforma em verdade rapidamente.

 

Mas como saber em que ou em quem acreditar?

Antes de repassar uma informação é preciso confirmar a fonte, avaliar se as informações são verídicas através de veículos de comunicação confiáveis, com profissionais trabalhando na linha de frente e com uma linha editorial.

Informações recebidas pelo WhatsApp são mais difíceis de checar, portanto, tendem a ser falsas.

sempre que possível cheque o que se diz sobre um fato em veículos diferentes, quem são as fontes entrevistadas… E nunca se deixe levar pela primeira informação que chegar até você”, recomenda a Professora e Comunicadora Andréia.

 

Brasil 2020

Em meio a Pandemia do Coronavírus, no momento em que você está lendo essa matéria, é provável que mais pessoas tenham sido infectadas e outras tantas tenham morrido. É importante que tenhamos discernimento para que não causemos pânico e juntos possamos cobrar atitudes responsáveis do governo federal.

Mais do que nunca, a defesa do SUS se faz necessária, pois são os servidores públicos da saúde que vão atender você e sua família, caso sejam infectados.
Não podemos negar as evidências científicas sobre a letalidade do Coronavírus. Por isso é tão importante discutirmos a liberdade de imprensa à luz dos fatos históricos, à luz da razão.

“Arriscaria dizer que depois dessa pandemia, as pessoas – talvez – se tornem mais conscientes do papel do Estado que não é de servir aos interesses econômicos de banqueiros e grandes empresários, mas de distribuir renda para sua população.

Talvez as pessoas aqui no Brasil irão se conscientizar da importância do SUS, repensar o seu modo de consumir, falar mais da pauta ambiental.

Não podemos esquecer que este vírus estava na natureza, nos animais, ele chegou nos seres humanos, porque estamos destruindo a nossa casa, o planeta Terra, a “Pachamama”. Nossos hábitos de consumo também precisam ser revistos, estamos esgotando os recursos naturais do planeta, isso põe em risco a nossa sobrevivência”, concluiu Nice Passos.

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