‘Me amordaçaram. Algo que, em ambiente físico de trabalho, jamais fariam’, denuncia servidor que foi cerceado após compartilhamento sobre movimento grevista.
Um servidor do INSS teve sua conta “bloqueada” em um grupo do Telegram gerenciado pela gestão do INSS após enviar mensagem de apoio à Paralisação Nacional de sua categoria, realizada na última quarta-feira (09). Daniel Muletaler é lotado na APS Digital Porto Alegre e a restrição foi feita por um dos gestores que administrava o grupo.
Antes de ter suas mensagens apagadas e ser impedido de fazer novos envios, Daniel foi repreendido por gestores que alegaram que somente assuntos técnicos deveriam ser tratados no grupo, que reúne servidores da Região Sul especializados em Manutenção de Benefícios. As mensagens apagadas falavam sobre reivindicações do movimento grevista: recomposição salarial, melhores condições de trabalho e a defesa do serviço público.
“Nesses grupos, fazemos aquilo que se faz no local de trabalho. A organização sindical é uma dessas coisas”, aponta Daniel, servidor na modalidade remota. O INSS passa por importantes transformações na forma de organização do trabalho e parte dos funcionários atuam exclusivamente no ambiente virtual. “Não tinha porquê me cassar a palavra. É como se eu tivesse no local de trabalho e fosse falar com um colega sobre o sindicato ou o movimento e me amarrassem, me colocassem uma mordaça. Isso não pode ser feito, é um absurdo em pleno regime democrático”, denuncia Daniel.
Ao ser procurado pelo sindicato, Silvionei Rocha (gestor que restringiu Daniel na conversa) disse que não houve censura à atividade sindical e que tomou a atitude por considerar que o servidor estava fazendo “flood” (termo que quer dizer “enxurrada” de mensagens). Apontou, ainda, que administra diversos grupos da categoria e somente na conversa em questão realizou o bloqueio. Daniel, por sua vez, conta que enviou mensagens diferentes em momentos diferentes, o que não caracteriza flood. Após o ocorrido, Silvionei apontou que reconhece que falhou por não ter dialogado diretamente com Daniel antes do bloqueio no grupo e que o servidor já está desbloqueado, afirmou ainda que garantirá o direito à livre organização sindical neste ambiente.
O movimento grevista no INSS continua, tendo em vista a situação atual: falta de servidores, fila de 1,8 milhão de benefícios e aguda piora nas condições de trabalho. O próprio grupo onde o fato ocorreu surgiu para dar conta de problemas que o INSS até hoje não resolveu: organizar os servidores e padronizar o serviço. Acontece que o órgão envia incessantemente portarias, orientações internas e e-mails aos servidores, informando alterações nos processos de trabalho. A desorganização da Presidência do órgão é tamanha que falta até mesmo uma Instrução Normativa que atualize a aplicação da lei após a Reforma da Previdência, promulgada em 2019.
O SindisprevRS lamenta o ocorrido e repudia qualquer ação que cerceie a organização e mobilização de servidores. Atuaremos sempre no sentido de defender, seja no ambiente físico ou virtual, o livre exercício do direito sindical, garantido constitucionalmente a todos servidores e servidoras.