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Site registra a história das vítimas da covid-19

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O Brasil possui 20.047 mortos pela Covid-19 em meio a polarização política, fake news e a banalização das mortes pelo governo federal.

 

    O depoimento a seguir foi retirado do site Memorial Inumeráveis.

 

Cesar dos Santos

1956 – 2020

 

    “Seus filhos foram a sua razão de viver.

    Um homem simples e de coração puro. Pai de sete filhos. Cuidou, criou e educou com todo amor que havia em seu coração. Ele viveu para os filhos até o último dia de vida.

    Cesar nasceu em Rio de Janeiro e faleceu em Rio de Janeiro aos 64 anos vítima do coronavírus”.

 

    César é um rosto desconhecido na multidão. Um CPF cancelado, uma vítima da Covid-19. Não era um conhecido de luta, não era um sócio do sindicato. Não era um servidor público.César era pai dos seus filhos.

    César seria apenas um dos 20.047 mortos na pandemia de coronavírus que chegou ao Brasil e fez sua primeira vítima fatal em 17 de março.

    Apenas um número, não fosse o Memorial Inumeráveis, site criado pelo artista paulistano, Édson Paviani, para lembrar que os números representam pessoas.

 

    Pessoas como a jovem mãe de 38 anos, que deixa um filho de 11, Raquel.

 

Raquel Pessoa de Oliveira

1981 – 2020

 

Uma pessoa muito alegre, amiga e companheira.

Ela tinha uma alegria que contagiava. Muito família, estava sempre com seu filho, seus pais e seu esposo. Muito amiga e companheira.

Deixou sua semente aqui na terra, um filho de 11 anos.

Raquel nasceu em Bom Jardim e faleceu em Recife aos 38 anos vítima do coronavírus”.

 

    Os relatos são de familiares das vítimas, não são uma biografia, mas descrevem a memória guardada pelas pessoas que perderam seus amigos, mães, pais, filhos, tios, sobrinhos, avós, primos queridos, esposas, maridos… em meio ao caos de um Brasil polarizado.

    São os momentos marcantes que os familiares compartilham em meio à guerra de fake news sobre a eficácia da cloroquina, dos caixões vazios – propagadas por deputados ligados ao Presidente Jair Bolsonaro – por manifestações onde apoiadores do governo dançam com caixões colocando em dúvida a perda dos entes queridos, que agora ganham uma história.

    O Brasil já é o terceiro país no mundo em número de infectados, talvez o primeiro em falta de empatia.

    No dia de ontem, 21 de maio, o estado de São Paulo – o mais populoso do Brasil – registrou um total de óbitos de 5.558, número maior de vítimas do que a China, país mais populoso do mundo, onde 4.634 pessoas morreram de Covid-19.

    A dor dessas pessoas não pode ser contabilizada, e, além da perda que sofreram, precisam se deparar com notícias como a de que o filho do presidente Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro, pediu ao Ministério Público Federal (MPF) que investigue as mortes em São Paulo pelo o que ela chama de “supernotificações”.

    A desconfiança do filho 01 de Bolsonaro – é assim que presidente se refere ao senador – é de que o número crescente de óbitos causados pelo coronavírus sejam adulterados para prejudicar o governo do pai. João Dória, governador de São Paulo é ex-aliado de Bolsonaro e é acusado pelo presidente e sua família de tentar desestabilizar o governo federal, assim como os demais governadores que vem seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e os protocolos que vem reduzindo o número de mortes em diversos países, contrariando a vontade do Presidente que nega a letalidade do vírus.

    Na manhã de hoje, o MPF acatou o pedido do congressista e irá iniciar investigações sobre as mortes. Mais uma tristeza para as famílias.

    Num Brasil sem liderança política, dois ministros da saúde abandonaram o governo federal, pois Bolsonaro não aceita as evidências científicas e defende a retomada imediata das atividades econômicas e o uso indiscriminado da cloroquina, sem a menor preocupação com a vida das pessoas.

    Seu interesse é a economia, seus olhos estão voltados para 2022, ano da eleição presidencial.

    Para garantir que não será responsabilizado pelas milhares de mortes que estão ocorrendo e que devem vitimar 88.305 brasileiros até o dia 4 de agosto, conforme dados divulgados esta semana pelo IHME, instituto de métrica da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, Bolsonaro editou a MP 966 que exime de responsabilidade os agente públicos – grupo em que se encontra – de decisões que levarem à morte de pacientes durante a pandemia.

    O número de servidores públicos contaminados também é alarmante, somente no sistema prisional são mais de mil agentes de segurança contaminados, fora a morte de servidores da saúde que, na linha de frente ao combate à doença, são hostilizados pelos seguidores do presidente em protestos e nas redes sociais. Até o momento, mais de 8.625 profissionais da saúde estão afastados de suas funções por contaminação do coronavírus.

    O Memorial Inumeráveis é um convite a reflexão sobre a pandemia, um caminho para trabalharmos a empatia e um registro histórico da incapacidade e da irresponsabilidade de Jair Bolsonaro frente ao executivo.

 

Você pode conferir relatos sobre as vítimas no site: https://inumeraveis.com.br/

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